Ao longo da história da humanidade as sociedades foram
desenvolvendo formas de organizar-se e de viver coletivamente. A política surge
buscando esse fim. Os sistemas variaram de tempos em tempos, mas foi a partir
das sociedades gregas que, com as intenções de se buscar um agrupamento social
que fosse mais justo e mais igualitário, se pôde desenvolver a ideia de
política.
O
povo grego desenvolveu um sistema político que denominavam de democracia, ou
seja, poder do povo. Esse sistema nem sempre foi uma realidade presente na vida
política grega, entretanto foi a partir desse princípio que se desenvolveu
a ideia de política, aquilo que se voltava para o bem da polis, da
cidade.
No mundo contemporâneo esse pensamento se alastrou. Tornou-se um
desejo geral. Acreditando-se que sem a democracia não é possível desenvolver
uma política igualitária. A pólis precisa ser integrada às vontades
das pessoas que vivem nela. Quando isso não acontece afirma-se que a política
não está de acordo com os princípios participativos e democráticos.
Essa ideia, entretanto não é tão real quanto parece. A democracia,
se por um lado é a meta da sociedade contemporânea, é também o contraditório
dela. As desigualdades sociais e a concentração de riqueza, tanto dentro das
nações como também entre elas, é um elemento impeditivo da democracia.
Neste sentido então, ao mesmo tempo em que se prega uma política
democrática, foge-se dela quando os meios tornam-se discrepante em relação ao
fim. Sem participação não há democracia e sem democracia não há participação.
Para que essa dinâmica se efetue é necessário que as decisões não sejam tomadas
apensas por uma parte, pois dificilmente essa parte entenderá a necessidade do
todo. No entanto, para que todos participem, é fundamental que as condições que
favoreçam essa participação sejam iguais. Aqui é que reina o contraditório
entre o discurso da política democrática e as verdadeiras intenções de torná-la
possível.
Numa sociedade com excessiva discrepância de riquezas, com
centralidade de poder e impossibilidade de participação igualitária, a política
continuará menos democrática e menos participativa. O que, portanto, faz do
sonho grego uma hipótese possível, mas pouco factível, pelo menos nas condições em
que o mundo se encontra.
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