Walter Fajardo
Freud parte da ideia de uma cadeia de neurônios.
Imaginava também que, percorrendo esses neurônios, teria já dentro dele uma
coisa chamada de quantum, um quantum de energia ou simplesmente “Q”. Não se
sabe se seria uma carga elétrica ou outro tipo específico de energia.
Mas sabe-se que
sua manifestação, ou produção, tem relação direta com os estímulos, ou seja,
para Freud, os estímulos seriam prováveis produtores de “Q”.
Os neurônios
seriam os veículos condutores desse quantum , desse “Q”. Portanto, por eles
passam esses quantuns. Processo pelo qual será denominado de catexia
(concentração de todas as energias mentais sobre uma representação bem precisa,
um conteúdo mnésico, uma seqüência de pensamentos ou encadeamento de atos;
catexe, investimento. Huais, 2011). Também se usa o termo investimento.
Permeáveis – permitem a passagem dos quantuns, passam
pelos neurônios. Freud determina que esse tipo de neurônio
sejas responsável pela memória.
Impermeáveis – não permitem que os quantuns passem pelos
neurônios. Impedem a passagem nos neurônios.
Perceptuais – os quantuns passam rápido. Não retêm nenhum
tipo de informação. Ele existe para perceber aquilo que ocorre internamente ou
externamente. Por exemplo: as informações do olho ao cérebro (internamente), as
informações de fome ao cérebro (externamente).
Outro aspecto
apontado por Freud é o resultado do acumulo de “Q”. Esse
acúmulo gerará desconforto, como por exemplo, a fome que conduz ao cérebro o
desconforto da ausência do alimento. O cérebro ao acumular essa informação
produzirá um sinal de alerta, no caso de crianças, normalmente, o choro. Ao ser
lançado esse alerta, ser-lhe-á oferecido um seio que, pelo fornecimento do
leite, dará à criança a satisfação do término daquele desconforto.
Esse processo
denomina-se de satisfação ou prazer, que no sentido psicanalítico, significa
descarregar a “Q” pela motilidade. Motilidade seria a capacidade autônoma
do organismo em buscar recursos exteriores para diminuir o desprazer ou a
insatisfação.
Mediante a
repetição desse processo, o pensamento se fixa na imagem de que a resolução da
fome se dará através do seio. Processo pelo qual se forma a “idéia” que volta
para a memória. Desta forma, esse processo resultará na idéia de que a criança,
ao sentir fome, chora, pois na sua idéia, com esse recurso, ser-lhe-á oferecido
o seio. Nesse sentido, surge então a esperança de que o seio lhe resolverá o
problema da insatisfação, a fome.
A esperança
forma-se no princípio do aparelho psíquico como fonte de resolução de
problemas, no caso da criança, a fome. Processo então que, na sua inconclusão,
gerará a idéia de desesperança. Logo que a fome se acumula, surge o pensar
relacional entre fome e seio. A primeira via que o aparelho psíquico vai
recorrer é essa imagem.
Os problemas
começam a surgir quando essa vontade ou essa imagem não se concretiza na
realização ou satisfação do objeto desejado, ou ainda quando, apesar desse
acumulo de energia, o individuo não demonstra nenhum tipo de reação (não, chora
não se movimenta).
Essa imagem
primária recebe o nome de alucinação. Na ausência do seio, ocorre uma
frustração ( um desejo não realizado). Entretanto quando o desejo se concretiza
numa “descarga motora”, ou seja, uma manifestação corporal concreta na
realização do desejo, a sensação desenvolvida é de prazer.
Muitos problemas
físicos podem ser decorrentes da não descarga do acúmulo de uma determinada
energia. Por não haver a descarga ( o prazer), essa energia acumulada vai
desequilibrar outros pontos do organismo. De alguma forma, essa energia é
extravasada. Ao que se passou a chamar de processo psicossomático.
Todo processo que
não vai para a motividade, ou seja, que se mantém dentro do indivíduo,
denomina-se PROCESSO PRIMÁRIO. Quando passa para a motividade, denomina-se
PROCESSO SECUNDÁRIO. A não realização do desejo (a não descarga) ou o medo do
desejo não ser realizado pode gerar a ANSIEDADE.
Outro aspecto a
ser abordado é em relação à “dor”. A dor se realiza quando a quantidade de
energia que passa pelos neurônios excede à quantidade habitual. É quantidade de
“Q” passando por uma via de neorônios.
Mulher Chorando, Cândido Portinari |
Daí poder ocorrer
o que se denominou de “trauma”, ou seja, uma quantidade excessiva de energia
que se fixa na memória. Numa linguagem mais específica, o trauma se dá pela
hiperestesia (paroxismo – aumento agudo - da sensibilidade, tendente a
transformar as sensações ordinárias em sensações dolorosas; acuidade anormal da
sensibilidade a estímulos – Houaiss).
Então, retornando
à questão do desprazer e do prazer, surge a idéia de que ambos estão
diretamente ligados à motividade. No primeiro, as vias que causam dor não são
facilitadas, podendo fazer com despertem as “barreiras de contato”.
Outro conceito
freudiano é o “eu”, que se apresenta como o conjunto de neurônios investidos de
um determinado momento. É uma instância que tem toda a visão do que acontece ao
redor de si. É maior que o prazer. Possui sentimento e emoções. O “eu” se
constitui de conteúdos se dando a cada segundo, a cada instante.
Em seus
estudos, Freud acrescentará terminologias que vão dar sentidos
específicos ao variados processos neurológicos. “Princípio de realidade”,
por exemplo, é o processo que diz que não será em todo momento possível
descarregar a energia acumulada. Já “Julgar” será a capacidade do indivíduo em
distinguir se o mesmo se encontra numa realidade ou num delírio. A dificuldade
nessa distinção poderá desencadear uma “neurose”. Termos que, apesar de ser
anterior a Freud, terá como significado o resultado de um conflito
entre aquilo que o indivíduo é de fato, com aquilo que ele desejaria
prazerosamente ser.
Nenhum comentário:
Postar um comentário