quarta-feira, 11 de setembro de 2013

HONESTIDADE: O PRINCIPAL INSTRUMENTO DE SEGURANÇA PARA AS EMPRESAS.

Temos visto com frequência roubos e furtos dentro de estabelecimentos como supermercados, hotéis e pequenas empresas prestadoras de serviços. Boa parte dessas ações é realizada pelos próprios funcionários.

Os supermercados e os hotéis são as principais vítimas de tipo de ação. Segundo o Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo – IBEVAR,  e, pesquisa realizada com 106 empresas varejistas, do total de furtos ocorridos  20% são realizados internamente, ou seja, por funcionários.
Apesar das empresas de hotelaria não divulgarem esses dados, basta abrir os jornais para verificarmos quanto dessas ações ocorrem nesses estabelecimentos.
Uma estratégia importante de diminuição desse tipo de ação é o desenvolvimento de treinamento junto aos funcionários.

É necessário ter funcionário de confiança e com valores morais sólidos. A honestidade é um fator de maior segurança para um estabelecimento. Por isso é significativo desenvolver treinamentos que valorizem esses potenciais.

Além de cultivar a ética, essas capacitações também favorecem a confiança entre o grupo e, obviamente, isso irradia aos clientes. É indiscutível os resultados positivos alcançados quando esses treinamentos são realizados.

Ter colaboradores honestos é maior segurança de uma instituição. Não adiante ter equipamentos e instrumentos de segurança sofisticados se a equipe não tem em si a base fundamental da formação moral.

Selecionar e capacitar pessoas de índole é um trabalho difícil e que necessita ser periodicamente fortalecido.


Walter Fajardo
Psicanalista, Teólogo e Mestre em Educação

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O sentimento de reciprocidade como equívoco da prática moral


        A ação moral que se vincula a um retorno que possa haver em função dessa prática não tem profundidade ética. O exercício da equidade e da honestidade com olhar na gratidão alheia (social ou espiritual) tem baixa dimensão ética. A realização de atos nessa direção fica limitada pela necessidade da gratidão ou pela esperança de ação recíproca.
No ético não há reciprocidade. O que ocorre no fazer ético é um nivelamento superior da generosidade. O indivíduo exerce seus valores morais, não para que haja uma possível retribuição do que foi realizado, mas porque essas ações são formas de favorecer o outro, de superação da própria vaidade, do egoísmo e da soberba.
A eticidade, além da do bem social que lhe é próprio, possui também um caráter educativo. É um aprendizado que se estende do individuo que age para suas relações familiares, seus grupos sociais e, quiçá, para toda sociedade.
Se há algum benefício pessoal na prática ética, certamente não está na reciprocidade nem no reconhecimento por parte do outro, está na possível sensação de uma maior proximidade da paz interior por ter-se tentado dar o melhor de si. Só isso!

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Alimentação e individualismo: a sociedade moderna e as alterações no processo alimentar



O ser humano sempre se reuniu para as refeições. Desde seus primórdios pré-históricos a alimentação tem um sentido comunitário e, numa boa parte desses encontros, um sentido místico.
O homem é um ser gregário, ou seja, constrói sua vida coletivamente. É um dos poucos animais que no período de crescimento depende quase que totalmente dos adultos. Talvez esse possa ser um dos fatores que contribuíram para essa agregação.
Essa necessidade do coletivo foi o que de fato fortaleceu o crescimento social da humanidade. Obviamente, contando também com sua potencialidade psíquica que possibilitou um maior desenvolvimento do raciocínio e, do que denominamos hoje, de razão. O ser humano é um ser racional. Isso o diferencia de todas as outras espécies existentes no planeta.
A alimentação foi fator de alta relevância no processo de fortalecimento dos aspectos coletivos, gregário e cultural.
A partir do período denominado de renascença, ou modernidade, passamos a ter transformações jamais imaginadas pela humanidade. As mudanças na economia mundial e as transformações e mudanças no ciclo do comércio mundial trouxeram para o mundo ocidental e, posteriormente, pra todos os povos  novas maneiras de relacionamento humano e também novos procedimentos quanto ao com o processo alimentar.
Na idade média, no mundo europeu, as sociedades viviam em grupos. Sociedades pequenas que, ligando-se de povoado a povoado, formavam estruturas culturais que se fortaleciam e se mantinham coesas.
Tanto pobres quanto ricos tinham uma vida coletiva. A alimentação fazia parte fundamental desse processo. Nos feudos havia festas, rituais, casamentos e outros tipos de ritos de passagens que sempre incluíam a alimentação. No clero e na nobreza, davam-se as mesmas situações; nas grandes festas, grandes eventos, a alimentação estava lá presente como fator agregador.
Dessa forma, a alimentação estava atrelada à convivência social. Normalmente, à alimentação, agregam-se fatores culturais, sociais e religiosos. Para tanto, em todo desenvolvimento do período medieval, a alimentação inseria-se na maneira coletiva de se organizar a sociedade.
Nas Américas também se dava dessa forma. As conquistas e migrações dos povos ameríndios eram também influenciadas pela necessidade da alimentação. Não havia o conceito de individuo, de individual. Um índio não era um índio, ele era sempre a sua tribo. Até hoje, as tribos que sobreviveram às transformações das Américas ainda preservam esse sentido coletivo.
A mesma situação se deu em regiões como China, Austrália, Índia e outras partes do mundo. A alimentação sempre teve forte relação com a convivência. As questões eram sempre coletivas, se davam assim na vida religiosa, na vida político-social e na religião. A dimensão da existência era coletiva e sempre partilhada através dos hábitos alimentares.
O enfraquecimento do poder das forças que sustentavam o período  medieval (clero e nobreza), principalmente pela exacerbação desse poder, culminou numa contestação social que acabou levando ao surgimento da Reforma, encabeçada por Lutero. Deste momento em diante, as disposições da organização social foi se transformando substancialmente. E, em consequência, o processo de organização da alimentação.
As transformações da sociedade ocidental, a partir da reforma, foram profundas. Lutero questionava o poder centralizador da Igreja. Questionava a maneira desse poder se relacionar com o povo. Fatores que o levaram a partir para uma revisão dos valores que predominavam sua época. Através dessas novas ideias, suscitou-se a aproximação de nobres, pequenos produtores e burgueses que prefeririam um distanciamento do poder da igreja. Suas intenções eram favorecer uma independência entre o Estado e a Igreja.
Podemos afirmar que, com esses acontecimentos, deu-se o início da ideia que temos hoje de individualismos. O indivíduo como centro da vida, seus direitos, sua privacidade e sua liberdade.
Se hoje vivemos uma democracia que se estende por todo o planeta, mesmo rodeada de instabilidades e fragilidades morais, isso se deu em função dessas primeiras contestações.
Destarte essas conquistas não se efetivaram em extensões de profundidade ética. Há contraditórios  de difícil equação. Por um lado conquistamos Estados democráticos que, fortalecidos pelos direitos humanos, tendem, cada vez mais, a cultivar e garantir a independência individual e as necessidades coletivas. Por outro, caminhamos para um individualismo que, identificado com a solidão própria da sociedade de consumo, torna-se nocivo.
Esse é o antagonismo. O individual passa a ter um valor excessivo em detrimentos de experiências coletivas familiares e de fortalecimento de núcleos de convivência sociocultural. A predominância é o indivíduo, entretanto, inserido no mercado de consumo. O que fortalece a sensação de isolamento.
O processo alimentar também se adere a essa condição. A maneira de se alimentar e de se viver o paladar ajusta-se a essa individualização e, consequentemente, também se torna isolada.
A alimentação, que sempre esteve presente na vida social, não tinha valor capital, no sentido de se buscar o lucro desse produto. O trabalho era para se alimentar, o excedente era guardado. Com as transformações da relação do homem com seu meio de produção, aquilo que ele fazia para sua sobrevivência deixa de ter valor e apenas uma parte de seu trabalho, a parte que é comprada como trabalho assalariado, que possa render lucro para o produtor, é que será reconhecida.
Com isso a sociedade também muda sua maneira de se relacionar com a alimentação. O alimento já não será resultado consequente da produção da vida, mas será conquistado na mesma proporção em que o trabalho for vendido, ou seja, quando se tem emprego, se tem o alimento e, inversamente, quando não se tem um, não se tem o outro.
Diante dessa condição, a alimentação, gradativamente, vai tomando dimensões também individuais. Como o trabalho passa a não ter mais o sentido de manutenção da coletividade e sim do próprio individuo em particular, ou, no máximo, de sua própria família, os laços de unidade coletiva também diminuem.
Com o crescimento do capitalismo, a alimentação passa a incorporar outra configuração. Sua potência comercial expande-se e o alimento que estava vinculado aos fatores regionais, culturais e religiosos vai ser objeto de intenções comerciais. As refeições, que tinham o sentido de unir a família ou os grupos sociais, passaram a ser, unicamente, um mecanismo de manutenção da vida para que a pessoa pudesse continuar trabalhando.
A transformação da alimentação em produto de consumo induziu a sociedade a uma forma individualista de se alimentar. Hoje, nos grandes centros, as pessoas se alimentam com rapidez, sem cuidado nutricional, em quantidades desproporcionais às necessidades orgânicas, gerando sérios problemas de saúde.
Nas sociedades urbanas, é mais comum vermos pessoas isoladas se alimentando em shopping-centers e restaurantes de serviço rápido, do que uma família, em suas casas, reunida em volta de uma mesa.
A sociedade atual alimenta-se só. Produz seus alimentos só. Compra pronto, enlatado, ensacado e preparado. Como a necessidade do consumo é mais percebida que a necessidade de convivência, favorece-se o isolamento alimentar e fortalece-se o afastamento entre as pessoas. Isso é uma pena!


quinta-feira, 2 de maio de 2013

RESENHA: Ética e história


Ética e história

SALDANHA, Nelson. Ética e história. Rio de Janeiro: Renovar, 1998.

 A discussão sobre ética tem sido uma constante na contemporaneidade. As dificuldades de se encontrar um direcionamento efetivo quanto a um procedimento eficaz, tanto em seu aspecto jurídico como em seu aspecto pedagógico, parece ser o maior desafio que se impõe à realidade.
O Professor Saldanha segue este caminho. Num profundo debate sobre a necessidade de se encontrar alternativas para concretização de um projeto ético, remete-nos a uma densa reflexão histórica e axiológica da moral tanto a nível universal quanto na sua dimensão da contextualidade brasileira.
No entender do autor “a ética corresponde ao conjunto de todas as formas de normatividade vigente nas agrupações humanas” (p.07), o que, portanto, perpassa todas as dimensões que incluem reflexão e construção de instrumentos reguladores do comportamento coletivo, tanto no que se refere aos interesses do indivíduo quanto ao que se remete ao bem coletivo. È nesta dimensão que o trabalho do jurista detém maior atenção, distinguindo questões axiológicas entre a ética clássica e a contemporânea. Verificando que, enquanto na primeira a dimensão reflexiva da ética centrava-se no bem da cidade, nos tempos atuais, em função da potência que a individualidade recebeu da modernidade, vive-se numa dificuldade de direcionamento reflexivo entre o bem comum e os direitos do cidadão.
No construir destas considerações Saldanha recupera os aspectos políticos da eticidade ao identificar que “os valores em geral – principalmente os que tangem à convivência – radicam [na] política [...] [e] no plano institucional do viver” (p. 14), ao mesmo tempo em que tece um olhar para as dimensões culturais dessa convivência. Verifica-se assim que, se é a pessoa (no sentido de sua individualidade) que vai dar a significação ao valor dessa politicidade, e se é essa pessoa (no sentido da convivência) identificada e considerada (por ela e pelo grupo) como um membro desta coletividade, há aí um dado que remete as identificações axiológicas da ética a uma dimensão cultural, pois “os valores que se atribuem à pessoa [...] são referências cuja significação objetiva se acha na dimensão institucional: língua, parentesco, ordem social, crenças” (p.14), os quais são atributos construídos a partir de referenciais culturais.
Outro aspecto trazido nesta reflexão é a existências das constantes, que são “conceitos que permanecem mesmo através de diferentes contextos culturais, [ou seja], conceitos, representações ou princípios éticos que persistem, embora, certamente, com variantes” (p.35). Valores que, passando por várias épocas, adentram diferentes contextos e diferentes culturas. Elementos de uma “moral arquetípica, [que] perpassa os povos, os tempos” (p.38) efetivando um ethos manifesto e “constante”, que, ainda com possíveis variações culturais, efetiva-se em sua intenção axiológica. Possivelmente é esse ethos universal que unifica o desejo global de manutenção da vida e da existência humana, cristalizando-se em ações como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, e mais presentemente os direitos universais das mulheres e das crianças e adolescentes.
Na passagem do antigo para novo, mesmo com a manutenção de tais constantes, a fragmentação instituída pela modernidade tem gerado uma nova instabilidade. Enquanto a “ética greco-romana revelava uma concepção hierárquica do mundo e da sociedade, da vida humana portanto; uma concepção que configurava como uma ordem montada sobre um centro divino e estável” (p.76), na ética moderna o homem se vê em crise por falta de referências, “acha-se bracejante em contextos sociais instáveis e entre valores precários” (p.76). “Com o relativismo e com a relativização fornecida pelas ciências do tipo da sociologia e psicologia, a realidade deixa de encarar-se com um todo, e as opções valorativas deixam de ser radicais; homens e sociedades passam a ser vistos sob a forma de possibilidades distintas e a ser julgados em função de alternativas mais flexíveis” (p.81).
Essa nova condição gerou outras perspectivas em relação à participação, pois o conceito de democracia dado pela polis e efetivado na intenção universal em Rousseau parece não ter se configurado na estrutura da democracia participativa, o que demanda uma nova recolocação deste valor, uma melhor equação axiológica entre o representativo e o participativo.Na antiguidade prevalecia-se o interesse do todo sobre o individual, a cultura da polis. A axiologia contemporânea ainda permanece numa dimensão entre o abstracionismo da multiplicidade e o substancialismo inerente ao desejo civilizatório, “[...] na antiguidade, com o primado do todo sobre as partes (o primado da cidade na cultura clássica) a comunidade se impunha sobre os indivíduos, com suas crenças e suas normas. Esses referenciais deixaram de ser permanentes na cultura ocidental contemporânea, [...] parece que a cultura ocidental moderna realmente se ressente do esvaziamento dos fundamentos” (p.111),
Assim sendo, na vida contemporânea parece prevalecer o pragmatismo e o hedonismo, numa utilização do direito para preservar com maior intensidade o individual e o privado em detrimento de ações que ampliem e fortalecem ações solidárias e éticas. As dimensões da crise axiológica contemporânea parecem extremar ao limite da vida, quando, nas pretensas intenções de reprodução humana, esfola-se com freqüências nas relações com a bioética.
Apenas em poucos aspectos poderíamos levar as reflexões do Professor Saldanha a questionamentos, mas, ao afirmar que “o correto agir depende do correto saber ou do correto pensar, e, portanto, toda formação ética depende de uma formação intelectual”, teríamos a impressão que o intelectual se sobrepõe ao bem. Desta forma, numa modesta intenção, acrescentaríamos a isso que o puro saber intelectual não garante uma eficiência ética, ao saber intelectual é necessário um saber reflexivo e axiológico no que se refere aos aspectos da convivência, da manutenção da vida e dos conteúdos elementares de sua manutenção.
Esse aprofundamento na ética e na história a que nos remeteu Saldanha, coloca-nos diante de um conflito ainda não resolvível. Talvez precisemos retornar aos elementos que fundaram o humanismo, o iluminismo e os princípios que edificaram a consciência histórica da modernidade e da contemporaneidade. Esquivar-se das potencialidades tecnológicas da contemporaneidade não parece ser a melhor opção. Identifica-se então, um provável redimensionamento dos valores implícitos na utilização dessas tecnologias. “O que continua necessário, certamente, é o reexame crítico destes problemas, com alusão aos valores implicados em cada posição e à relação destas com o humano. A consciência do humano (que deve fazer parte da consciência filosófica em qualquer caso) deve ser entre outras coisas, conhecimento e compreensão da história das situações do viver: do viver como experiência específica e intransferível” (p.170).“

sábado, 30 de março de 2013

POEMA: OLHOS MEUS

Olhos meus

Para Telma Natali



Olhos meus,
meus olhos te miram.
Sorri, te vi,
te vejo todos os dias.
Me vi nos teus cabelos,
deslizando num suave perfume.
Aroma matutino.

Não me olhes mais.
Não me encantes mais.
Profundo é teu olhar,
negros são teus cabelos.
E eu aguardo tuas mãos leves,
tocarem meu rosto,
me abraçando ao mundo, nos teus braços.

Haverá sonhos, sorrisos,
promessas, planos, confissões...
Lágrimas felizes de esperanças
Ah...
Me vi nos teus olhos,
deslizando nos teus cabelos,
num perfume, numa noite, num encanto.
Olhos meus,

meu olhos te miram.


POEMA: CANTO PARA AMADA

CANTO PARA AMADA

Oh! Minha amada...
Pra onde tu foste?
Passaste por mim e, de ti,
só me restou o perfume.
Ainda o sinto e viajo em seu aroma.

Onde estás?
Soube que passaste e que deste
alimentos e afagos.
Porém só me restou relatos,
contados e vividos.


Oh! Minha amada..
Quando passaste,
queria te ver,
mas o tempo me passou.

Preciso de ti, de teu aroma,
de teu tempo, de teus olhos,
Estes, guardo-os comigo.
Não os vi,
Mas Guardo-os comigo!


Ah! Minha amada...
estás comigo!
Sei de teu caminho, não deixaste rastros
Mas te encontro
nos olhos dos amantes,
nos olhos dos pastores.

Quanto teria pra te dizer,
Quantas histórias...
Sonhos, fantasias
deste e daquele mundo,
O tempo passaria
sem que nem ele mesmo desse conta.

Ah! Minha amada...
Suplico-lhe que me venha, ao entardecer,
soprando e sussurrando ao meu ouvido,
alimentando-nos de suspiros,
velando, zelando,
seguindo o caminho das montanhas,
das nuvens e das noites.
Minha amada...
Teus braços são leves e doces,
neles encontro abrigo, acalanto.
Teus dedos percorrem minha face
E teus seios acalmam meu olhar.

Quero-te com calma,
ternura e brandura.
Deixe eu te ensinar
segredos de homens,
da vida.

Me dê teu corpo,
tua alma.
Me envolva na névoa de teu amor
para que eu viva intensamente,
sem dor, sem sofrer,
por inteiro!

Inteirando-me na soma de nossos abraços.


domingo, 24 de março de 2013

ARTIGO: Família e escola: novos papéis e novas responsabilidades para uma nova disciplina


Família e escola: novos papéis e novas responsabilidades para uma nova disciplina

A família contemporânea passa por uma profunda crise. Já não mais dá conta das responsabilidades que lhe são atribuídas pela sociedade. Os conflitos que se apresentam na atualidade, principalmente os do mercado de trabalho, como a escassez de emprego, diminuição do poder de compra do salário e a inserção da mulher neste mercado, levam, necessariamente, a uma revisão na sua forma de educar e de se estruturar.
Com essa nova contextualização, surge uma desestruturação na constituição dos laços e valores afetivos entre pais e filhos que, indubitavelmente, interferem na educação da criança e do adolescente, na sua inclusão na vida social e na convivência socioescolar.
Há uma intensa cobrança sobre a família no que diz respeito aos valores éticos e morais que devem ser desenvolvidos na criança. Como a ética e a moral não se constroem sem afeto e este, devido à crise sociofamiliar, encontra-se em desequilíbrio, distanciando o adulto de suas responsabilidades afetivo-relacionais para com a criança, as famílias ou transferem para outros a responsabilidade da educação, como avós, tios, parentes, creches e escolas, ou recorrem a uma culpabilidade destrutiva e maculadora da relação afetiva entre elas e a criança.
Desta forma, com a desestruturação dos elementos psico-socioafetivos, a criança não consegue reconhecer a sua capacidade de assimilação dos valores constitutivos da disciplina, visto ser esta construída na vida afetiva e coletiva, frustrando criança, família, escola e sociedade.  Todos tornam-se vítimas de uma problemática enraizada mais na dinâmica econômico-social, na luta constante por melhoria de vida e menos na capacidade individual e familiar de se educar para o amor, para o convívio social e para a cidadania.
A criança, por não responder às expectativas da família, de seu grupo social, e por não ter conseguido compartilhar a experiência de reconhecimento das regras norteadoras da convivência sociocultural, também não consegue visualizar as regras sociais como processo de inclusão e integração, passando a construir sua compreensão de mundo por si própria.
As regras sociais se constroem coletivamente, através das trocas de experiências e na busca de elementos positivos à manutenção da convivência. Entretanto, quando a criança tem acesso restrito a essas condições, quando não há subsídios e aparato social que alimente essa vontade de se integrar, ela individualiza-se, isola-se. Por não ter apreendido os valores sócio-integrativos, experimenta de forma conflituosa e desintegrada o seu relacionamento com o grupo social em que está inserida. O que costumeiramente se denomina de “indisciplina”, ou seja, o não reconhecimento das regras que induzem o indivíduo àquilo que o grupo social considera como melhor para sua convivência.
Se a família enfrenta situações extremamente instáveis quanto ao seu papel social, com a escola não é diferente, pois em função dessas profundas mudanças e indefinições da estrutura sociofamiliar, acaba a instituição escolar se envolvendo em papéis que, até bem pouco tempo, não lhe eram atribuídos. Hoje parte das responsabilidades formativas da criança deixou de ser exclusivamente da família. Á escola foi incorporado o papel de colaboradora no processo educativo, intelectual e afetivo da criança.
A família, por não mais se encontrar em condições de assumir integralmente seu atributo formativo, pouco a pouco, vai transferindo e partilhando com outros, particularmente com a escola, a tarefa de educar para a vida. Nessa situação, a escola adentra um processo complexo e confuso, pois o seu papel epistemológico fica fragilizado enquanto o psicoafetivo se potencializa.
A família, diante da volatilidade da modernidade (pós-modernidade), não tem encontrado um referencial estrutural satisfatório para apoiar-se e encontrar respostas para essa instabilidade e a escola, que talvez até pudesse desenvolver esse papel, não tem conseguindo dar conta das variadas demandas que têm se apresentado, o que tem enfraquecido sua principal responsabilidade: educar e formar.
Indiscutivelmente se faz  necessário que a escola inclua, cada vez mais, os pais em seus projetos pedagógicos, fundamentalmente no que se refere à formação para a cidadania. Os professores, coordenadores e outros profissionais da educação devem estar preparados para, além de educar para a ciência e para a cidadania, educar também nos aspectos elementares do afeto e das relações interpessoais.
Mas à família cabe a responsabilidade de, aceitando seu limite formativo, buscar na escola possibilidades de seu crescimento, de seus filhos e da sociedade. Há de haver uma maior integração entre escola e família. É necessário também que no epistemológico se inclua a discussão de questões sobre a estruturação familiar e seus novos modelos e que, para a família, a escola seja um local real de desenvolvimento, não só do saber formal, mas também dos aspectos morais e afetivos.

A família e a escola incorporam o inconsciente cultural da sociedade contemporânea. A construção do saber, desde os primeiros movimentos da criança até a sua entrada no mundo do trabalho, passa pela família e logo em seguida pela escola. Não se pode pensar uma formação integral se ambas não estiverem em real conexão, recorrendo-se sempre ao diálogo de seus conflitos e à constante discussão de seus papéis e seus compromissos. Uma sociedade justa somente se constrói quando as responsabilidades são partilhadas e os diálogos constantemente estabelecidos.

ARTIGO: Violência na escola e as ações efetivas para uma consciência em favor da paz


Violência na escola e as ações efetivas para uma consciência em favor da paz

A discussão sobre violência na escola é complexa, pois envolve vários aspectos da vida social. A violência não surge simplesmente por conflituosas relações entre professores e alunos ou entre a escola e estudantes, ou ainda entre os próprios estudantes ou entre eles e seus familiares. Há vários fatores que influenciam na intensificação da violência, assim com há várias formas de sua manifestação.
Há manifestações que são objetivas e visíveis que, mesmo sendo difícil de se combater, é possível verificar seu foco e interferir no seu processo, identificando a gênese ou os motivo mais relevantes de seu surgimento.
Essas violências são demonstradas diariamente nos meios de comunicação, diríamos que até de forma extravagante. Porém há uma outra dimensão de violência que “corre por baixo”, é invisível aos olhos comuns, não perceptíveis nas aparentes relações solidárias das sociedades e em particular nas escolas. É necessário uma percepção apurada e precisa para percebe-las. Essa violência talvez seja a mais perigosa, pois ela efetiva a discriminação e enraíza o preconceito de maneira “harmoniosa”, ela delimita os espaços de poder entre professor e aluno, entre escola e família e estratifica as relações no interior das instituições escolares.
A violência nos é incomoda, as vezes insuportável, por isso tem crescido o número de ações que procuram diminuir seu poder. Desta forma, quando pensamos em violência, involuntariamente nos surge a ideia de sua contraposição, e o que se contrapõe à violência é a paz, por isso tem crescido os movimentos pela paz. Mas, o que é a paz? Seria o fim da violência? Seria a convivência harmoniosa e, numa perspectiva cristã, a efetivação de uma irmandade realizadora do amor e da solidariedade fraterna?
Ora, se a violência, de alguma forma, é a presença da intolerância, do desrespeito à convivência democrática das diferenças e, por conseguinte, da falta de diálogo, podemos pensar que uma situação contrária a esta facilitaria as experiências de paz. Assim chegamos a subjetividade da paz. A paz não é uma coisa, assim como a violência também não o é. A paz é uma possibilidade, uma situação dialogal onde se privilegia o entendimento, portanto quando o diálogo é desprezado a intolerância e a violência se revigoram.
Notamos então que a violência só pode ser combatida com o diálogo e com a efetivação democrática das relações. A isso, no que se refere à sociedade, denominamos cidadania. Aprimorando-se tais percepções facilita-se a identificação de discursos demagógicos e fortalecem-se as intenções que priorizam convivências em favor da cidadania.
Uma educação que combate a violência, privilegia o diálogo, efetiva projetos que intensificam tal possibilidade. Por isso não é fácil, pois falar tanto de violência como de paz, implica em destituir castas de poder que se efetivaram ao longo de toda nossa história, significa desfazermos de poderes que se impregnaram no âmago de nossas vidas, micropoderes que se manifestam nas mais intimas relações e que se dissipam por todos os níveis das relações de toda e qualquer sociedade contemporânea.
Um projeto de combate à violência na escola tem que envolver professores, alunos, funcionários e familiares numa ampla discussão sobre as maneiras de violência que se manifestam na sociedade, nos colégios e nos lares. Procurando destacar principalmente aquela violência que se esconde aos nossos olhos, aprofundando a reflexão sobre os papeis de cada um na construção de relações que favoreçam o diálogo e a convivência pacífica.
Várias escolas têm adotado trabalhos similares fazendo palestras para pais, debates com professores, alunos e sociedade, organizando encontros da comunidade com autoridades policiais, civis e políticas. Debatendo os principais aspectos da violência nos vários setores da vida social: violência nos lares, contra as crianças, contra as mulheres, contra os índios, os negros e demais grupos sociais ou minorias étnicas.
A experiência pode ser muito enriquecedora. É certo que tais ações não diminuem os índices de violência. Mesmo porque não é possível efetivar projetos dessa proporção em ações isoladas ou restritas a uma escola. Entretanto, ao levantarmos a discussão e despertarmos em nossa comunidade, em nossos alunos, em nossos professores e em nós mesmo a consciência de que a violência se potencializa quando o diálogo é desprestigiado, se conseguirmos fazer com que essas pessoas reflitam sobre suas ações e seus compromissos na efetivação de uma sociedade solidária, na busca de um estado de paz, cumprimos nosso papel de educadores e efetivamos o compromisso que toda escola tem com a formação e a educação para a cidadania e para a democracia.
Afinal, educar é um ato que sempre visa o futuro, ninguém educa para hoje. O passado e o presente são os instrumentos que o educador tem na edificação da sociedade que ele, de forma apriorística, já elaborou dentro de si.


POEMA: Máculas da Alma

Máculas da Alma       
                            
“...assim me torno eu próprio a humanidade;
e se ela ao cabo perdida for, me perderei com ela.”
Goethe 

O que macula a alma não é a dor daquilo que não realizamos,
mas o desejo constante e incontido que, do âmago,
transforma-se em febre e destrói nossos sonhos.
O contato com a realidade de coisas mutáveis e insustentáveis.
Frígidas lâminas nos tornam frágeis
e decepam os mais puros desejos e os mais primitivos suspiros.
Irreconhecíveis a nós mesmos!
Nos odiamos se os despertamos ou paralisamos os atos públicos de condenação.
Todos possuem e compartilham olhares comprometedores,
mas, passíveis ao cotidiano fosso das cidades, ausentam-se,
ilham-se nas multidões frustradas que se aderem a uma falsa sensação de comunidade universal.
Não sentem, nem vivem!
No temor latente da aglomeração das tensões, preferem o plástico, o flexível.
Cegam-se!

Em mim toda dor e todo sofrimento se intensificam.
Recolho-me ao que é nato e inato, sem ser redentor,
sem ao menos almejar um possível ato heróico.
Amo o mundo e os homens,
amo-os por mim e por eles.
Ainda que odiá-los seja uma propriedade da minh’alma,
é meu desejo amá-los.
Carrego todos os sentimentos
e ouço suspiros temerosos de que as sombras possam ser a eternidade de meus dias
e minhas noites uma escuridão, um betume.
Isso o betume!
Quem sabe o betume do barro preto...
que nos remete à leve sensação de um retorno ontológico, um lócus,
à fonte emergente  donde brotou o ánthropos.
Preservarei o que há de primitivo, de elementar e de fecundo
para que do inescrutável, do intangível e da culpabilidade irremediável, possa fluir,
como um regato intermitente,
a outra face,
o oculto,
o imperceptível,
aquilo que ainda não foi dito.


Curvo-me ao tempo...
Satisfaço-me em não recorrer aos quantificáveis.
Este é o tempo do incalculável, da não metrificação,
tempo dos fluídos insolidificáveis.
Não há retorno, nem volta!
Ao olhar, cabe-lhe tudo, todos os espaços.
Aos passos, serve-nos caminhar adiante.
Recorro ao barro para compreender o sentido das edificações
e aos oleiros para me impregnar do deleitoso desejo de construir

No inescrutável tateio os eternos limites do saber temporal.
No intangível assento-me na possibilidade de uma atitude expansiva e abrangente,
ainda que se apresente como paradoxal.
Na culpabilidade irremediável,
encontro a angustiante sensação de que algo já poderia ter sido feito

Seguir é o que nos oportuniza. Este é o tempo!
Há uma temeridade, uma nebulosidade que circunda nossos olhares.
A mácula da alma tende a nos atrofiar, a ferir nossos ossos,
a nos tornar pedintes e recorrentes de uma fé que mais purga que liberta.
Se ao tempo sou súdito, rebelo-me contra a submissão de um homem por outro.
Há multiplicidade, há compartimentalização, há códigos indecifráveis,
mentalidades geneticamente cibernetizadas.
Mas há olhares, há homens, mulheres, crianças que todos os dias saem pelas ruas,
cães que vasculham os cantos das cidades,
as mãos ainda se entrelaçam e os braços enamorados se envolvem nas noites de frio.
Há almas maculadas, como a minha,
que se entristecem em ver
tantos vivos, quase mortos;
tantos sorrisos, quase tristes;
tantos sonhos, quase pesadelos.
Mas que seguem adiante,
ora cabisbaixo, ora numa alegria utópica e transbordante,
às vezes infantil.
Mas que prefere caminhar
ao invés de sorrir os sorrisos tele-enviados pelas megas inteligências que querem
uma impossível homogeneização.

Nisso eles se fragilizam e nós nos fortalecemos.

POEMA: Poema para o garoto do jornal


POEMA PARA O GAROTO DO JORNAL

 A rotina cotidiana da vida de um entregador de jornal

 Todos os domingos ele deixa o jornal na minha porta
Sua rotina é cheia de esperança
Só isso, mais nada!
Seus olhos fixam-se
num futuro não
muito longe.
A realidade o distanciou dos sonhos.
Não há sonhos.
Meninos não sonham,
entregam jornal!
Sua mãe, seus irmãos
aguardam ansiosos o desfecho dominical.

Domingo é dia de missa,
O culto dos crentes.
Amanhã, segunda-feira, será a mesa de ontem?

Haverá algumas frutas
E o pão,
este não há de faltar
Não há vida sem pão
O pão de todos os dias
Duro, suado, surrado, amassado
Não importa
Sem pão não se vive

Assim o jornal alimenta a todos...
Por acaso alguém vive sem jornal?

POEMA: Para aqueles que são imprescindíveis


Para aqueles que são imprescindíveis

Quantos esforços!
Todos os dias, todas as horas
Sábado, domingo, noite, madrugada
Tantos esforços!
As vezes sorrindo, as vezes chorando, as vezes... sei lá são tantas vezes
Tantos sonhos...
E esses meninos que crescem, se vão?
O que será que fica?
O que será vai?

Quem não se lembra de uma aula, de uma escola
da diretora ranzinza e autoritária?
Daquela funcionária que, com meticulosidade, um a um,
Verificava se o uniforme estava completo?
Elas tinham prazer e eu sei que tinham
Eu só medo de voltar pra casa.!
E da sopa no recreio?
Do pastelão que eu nunca tinha dinheiro pra comprar.
Quem é que não se lembra?

Quem passou por você?
Quem passou por mim?

Por quem vamos passar?

Antropofagia do saber, da cultura, do conhecimento.

Eu me alimento dos que passaram por mim
E estes pequenos, se alimentam de nós que passamos por eles.
Nossos antepassados acreditaram e nós cumprimos parte de seus sonhos
Nossos netos cumprirão os nossos?

Nossa história é feita de gente que luta e sonha.
Todos os dias! Todo tempo!
Esses são imprescindíveis, diria Brecht!
Você é assim?
Sei que é. Eu te vejo correndo, construindo,
arregalando os olhos a cada novo passo
Quem não se lembra?
Quem se lembrará?
Não importa!

Não fazemos pra sermos lembrados
Fazemos porque acreditamos
Não sabemos exatamente em quê,
Mas sabemos que o novo se constrói na incerteza
e na certeza de acertar
Isso é imprescindível!

Por isso
Vocês são imprescindíveis
Quem é que não se lembra?
Quem passou por você?
Quem passou por mim?

Por quem vamos passar?
Nossa história...
Todos os dias!
O que será que fica?
O que será vai?
Não importa,


Para os amigos professores 15.10.01
Walter Fajardo
 
Importante é ser imprescindível!

POEMA: Filhos


Filhos
(para Victor & Vinícius)

A vida fez
que eu te fizesse
pra fazer o que pudesse
daquilo que eu não fiz,
que não deu tempo,
ou o tempo
não quis.